Retrospectiva de leituras — 2017
Tinha resolvido, em 2016, anotar todos os livros lidos ao longo do ano. A intenção não era de me gabar do quanto eu leio, mas me lembrar de…
Tinha resolvido, em 2016, anotar todos os livros lidos ao longo do ano. A intenção não era de me gabar do quanto eu leio, mas me lembrar de que também as minhas leituras refletem os momentos que passei durante os doze meses. A lista de 2016 pode ser lida aqui. Em 2017, fiz o mesmo, a seguir estão os livros lidos na ordem cronológica. Abaixo de cada um, uma pequena apreciação do que cada obra deixou em mim. Lembrando, são só impressões, não me pretendo crítico de nada.
1. Mistborn: nascidos das brumas: o poço da ascensão — Brandon Sanderson
Segundo volume da trilogia que havia começado no ano anterior. Um bom plot de impasse político, mas meio parado para os padrões do Sanderson.
2. Vida Urbana — Lima Barreto
Crônicas de há 100 anos que poderiam ter sido escritas hoje, infelizmente. Bom para pensarmos como “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
3. Orlando — Virgínia Woolf
Primeiro contato meu com Woolf, e não poderia ter sido com obra melhor, tão atual. E pensar que tem escritor hoje em dia reclamando de diversidade na Literatura.
4. Barba Ensopada de Sangue — Daniel Galera
Um personagem interessante, mas confesso que o ponto de vista é exclusivamente masculino demais pra mim. Pouca diversidade de personagens. Gostei, mas não releria.
5. A Arte de Pedir — Amanda Palmer
Emocionante de um jeito que não sei dizer. A sensibilidade da Amanda me cativou para sempre. Recomendo a todos que estejam em crise com a arte que fazem.
6. O retrato de Dorian Gray — Oscar Wilde
Daqueles clássicos cuja fama se sobrepõe à leitura. O mote me soava tão mais interessante do que a realização dele na narrativa. Não gostei. Mas o valor continua.
7. Matrimônio do Céu e do Inferno — William Blake
Li rapidinho, achei interessante, me despertou um interesse psicodélico que desenvolvi mais numa leitura posterior.
8. Orgulho e Preconceito — Jane Austen
Confesso que comecei a ler partindo do pressuposto de que seria mais um clássico chatíssimo. Que nada! Personagens interessantíssimas, num contexto opressor, se virando para não serem tão subjugadas. Virei fã da autora.
9. O Deserto dos Tártaros- Dino Buzzati
Esse serviu pra me mostrar o quanto eu mudei meu gosto literário nos últimos anos. Contemplativo demais. Há seis anos, eu teria achado o suprassumo da profundidade. Hoje, achei apenas monótono. Embora não seja uma leitura que eu desrecomende, pois é belamente escrito.
10. Portas da Percepção e Céu e Inferno — Aldous Huxley
Depois do Blake, quis vir pra esse do Huxley, testemunhar a viagem que ele fez. Como sou careta e nunca experimentei nada alucinógeno, confesso que ler me deu vontade de experimentar.
11. A Insustentável Leveza do Ser — Milan Kundera
Chato, bem chato.
12. Coração de Aço — Brandon Sanderson
Aquela farofa gostosa que só o Sanderson sabe fazer, mas com super heróis. Tem umas críticas que ele faz que são muito legais no meio da pirotecnia da narrativa. Li do começo ao fim sem conseguir parar. Ótimo pra distrair.
13. Agência de Investigações Holísticas Dirk Gently — Douglas Adams
O Adams sempre me diverte, nesse aqui não foi diferente. O senso de humor segue afiado como em O Guia do Mochileiro das Galáxias, embora o tema seja completamente outro.
14. Utopia — Thomas Morus
Olha, só consegui terminar de ler com uma azia no estômago, porque precisamos urgentemente reconstruir um projeto novo de utopia para esse novo milênio. Se depender desse aqui, estamos ferrados, embora eu saiba que o título possa ser encarado ironicamente.
15. O Parque dos Dinossauros — Michael Chrichtom
Assim como o filme, um bom entretenimento. Recomendo.
16. O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares — Ransom Riggs
Tem personagens interessantes, e a trama é instigante, mas algo no estilo da escrita me incomodou. Gostei, mas não pretendo avançar para os próximos volumes da série.
17. O Perfume — Patrick Suskind
Esse ano, entrei numa pira serial killer que começou aqui. Excelente, macabramente excelente.
18. Os 13 Porquês — Jay Asher
Li por causa da série, obviamente. É um livro adolescente que trata de temas que não deveriam ser evitados. É menos agressivo do que sua adaptação para as telas, então acho que recomendo mais ler do que assistir.
19. O Quarto de Jacob — Virgínia Woolf
Voltei para Woolf, mas dessa vez não estava preparado, este aqui é impressionista demais e saía me escapando como se eu estivesse tentando capturar uma borboleta com as mãos. Certamente merecerá uma releitura.
20. Mensagem de uma Mãe Chinesa Desconhecida — Xinran
Um soco no estômago atrás do outro, bastante necessário pra a gente sair da nossa bolha quentinha que nos faz esquecer quão cruel o mundo pode ser com as mulheres.
21. Hibisco Roxo — Chimamanda Ngozi adichi
Talvez o melhor do ano. As distâncias que o fanatismo religioso e a intolerância percorrem para se perpetuar. Outra sequência de socos na cara, dessa vez.
22. O Demônio do Meio Dia: Uma Anatomia da Depressão — Andrew Solomon
Este estava na minha lista desde o ano passado, só esse ano consegui terminá-lo. Necessário pra mim, pois achei que precisava compreender o que é depressão para lidar melhor com a minha. Não é fácil, nem é curto. Mas é esclarecedor demais.
23. Ciclo Terramar: O Feiticeiro e a Sombra — Ursula K. Le Guin
Essa autora é maravilhosa, e fez uma alta fantasia, não maniqueísta, cujo inimigo e o objetivo do herói são a busca por si mesmo. Rápido de ler, mas muito reflexivo.
24. A Guerra Não Tem Rosto de Mulher — Svetlana Aleksievitch
Estou percebendo que li muita coisa dolorida esse ano. Aqui, a cruel realidade da participação feminina na guerra, um ponto de vista bastante negligenciado. A autora é de uma elegância na escrita que dá gosto. Indispensável.
25. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade — Yuval Noah
Cenas lamentáveis de uma espécie que se autodenomina “sábia”. Excelente para a autocrítica da humanidade.
26. Caçando Carneiros — Haruki Murakami
O realismo fantástico do Murakami nunca deixa a desejar. Bom livro, embora não tenha sido profundamente marcante.
27. A Garota Dinamarquesa — David Ebershoff
Romantização da vida da primeira mulher trans a fazer cirurgia de redesignação de que se tem registro. O autor faz um belo trabalho, pinta um bonito retrato da vida dela e de como sempre houve gente de mente aberta, não importa a época.
28. Sidarta — Hermann Hesse
Minha terapeuta disse que eu tinha que aprender a ser menos dualista. Li esse aqui pra tentar começar a aprender a tomar o caminho do meio. É bonito, apesar de um pouco machista, mas ensina algumas coisas…
29. Longe da Árvore — Andrew Solomon
Outro livro enorme do Solomon que ensina muito. Apesar de eu ter algumas críticas ao modo como ele referencia algumas deficiências ao longo do texto, recomendo para todo mundo, porque pensar em diversidade não implica só em admitir que há pessoas sexualmente diversas, mas entender que os corpos são tão diversos quanto as mentes das pessoas. Essencial para quem quer começar a entender o tema da deficiência.
30. Garoto Encontra Garoto — David Levithan
Livro leve, jovem, ideal pra você recomendar pro seu sobrinho ou pra sua sobrinha que tá entrando na puberdade. Trata de temas adolescentes num universo em que a heteronormatividade não impera. É muito gostoso de ler a diversidade dos personagens tratada com naturalidade, sem sensacionalismo, como tem que ser.
31. Bonequinha de Luxo — Truman Capoti
Delicioso de ler, bem melhor que o filme, inclusive.
32. Mistborn: Nascidos das Brumas — O Herói das Eras — Brandon Sanderson
A trilogia termina de um jeito megalomaníaco muito absurdo, mas a farofa que o Sanderson faz é tão gostosa, que é impossível não se divertir. Gostei desse final.
33. Lobo de Rua — Jana Bianchi
Amei a roupagem toda particular que a autora deu para a mitologia do lobisomem. Pena que tão curto. Aguardo ansiosamente obras mais longas neste universo que foi tão bem construído em tão poucas páginas.
34. Quiçá — Luisa Geisler
Prosa poética encantadora, impressiona pela delicadeza.
35. Quarto de Despejo — Carolina Maria de Jesus
Bem, acho que esse aqui dispensa comentários. Só deixo registrado a obrigação moral de ler esta obra que é tão fascinante quanto dolorosa.
36. Entre a Cruz e o Arco-Íris — Marilia de Camargo Cesar
Procurando compreender o que leva LGBTs que, mesmo diante de toda opressão cristã, conseguem ainda preservar sua religiosidade, encontrei este livro cuja autora, evangélica, se fez a mesma pergunta, ainda que do outro lado do meu espectro. Pra mim, que sou gay, tem muitas páginas desagradáveis de se ler, mas muito importante pra começar a entender essa relação complicada entre religião e diversidade sexual.
37. As Águas-Vivas Não Sabem de Si — Aline Valek
Ficção científica que se destaca por ser tão contemplativa quanto aventuresca. Quem disse que não dá pra ter fluxo de consciência numa missão submarina? Excelente.
38. Os Contos de Beedle, O Bardo — J. K. Rowling
Pois é, não tinha lido ainda. Fico besta com a inventividade dessa mulher. Amei os contos de fada do universo que ela criou e toda a noção de folclore bruxo que ela transmite aqui.
39. O Adulto — Gilliam Flynn
Conto super tenso e com uma reviravolta interessante demais. Bom para uma tarde monótona.
40. Amanhã Você Vai Entender — Rebecca Stead
Nunca pensei que fosse me divertir tanto com uma ficção de viagem no tempo. Geralmente eu frito os miolos com esse tipo de tema. Nesse aqui, eu achei tão bem amarradinho, que não precisei ficar ruminando. Ligeiro de ler, para jovens adultos.
41. A Odisseia de Penélope — margaret Atwood
Atwood vai, a cada obra que leio sua, se tornando uma das minhas escritoras favoritas atualmente. Essa perspectiva sobre a Odisseia é simplesmente encantadora.
42. Estação Onze — Emily St. John Mandel
Distopia ligeira e, nem por isso, superficial. Empolgou e emocionou.
43. Caminhos de Sangue — Moira Young
Aventura muito bem narrada, personagens cativantes e um estilo de escrita que faz jus e te insere no universo também pelo modo como a palavra é tratada na página. Recomendo.
44. No Sufoco — Chuck Palahniuk
Palahniuk sendo ele mesmo. Não me surpreendeu tanto quanto outras obras suas, mas não decepcionou.
45. Estação Perdido — China Miéville
Ao contrário de “A cidade e a cidade”, leitura que me fez dormir, aqui o Miéville me deixou de ouvidos vidrados. Longuíssimo, mas tão estimulante e criativo, que você não quer que acabe nunca.
46. Histórias de Hogwarts 01 — Proezas, percalços e passatempos perigosos — J. K. Rowling
Só havia lido um dos livretos lançados pelo Pottermore reunindo textos do site sobre o mundo bruxo. Sou potterhead assumido, então só posso dizer que adorei.
47. Histórias de Hogwarts 03 — Hogwarts Um guia imperfeito e Preciso — J. K. Rowling
Idem.
48. O Retrato — Nicolai Gogol
Outro daqueles clássicos que só me fizeram cochilar. Além do mais, achei bem moralista. Indico não. Quem sabe outro título do Gogol me ganhará mais.
49. Fim — Fernanda Torres
Adorei o cinismo da narrativa toda fragmentada e a noção de que envelhecer não é perder a vitalidade, apesar do que o senso comum nos indica sobre velhice. Personagens ricos e diversos, imperfeitos, tive raiva de vários. Despertou muitas emoções durante a leitura, o que foi ótimo.
50. O Chamado do Cuco — Robert Galbrait
Sim, fui ler o pseudônimo da Rowling pra suas narrativas investigativas. Confesso que fiquei encantado com a construção do detetive protagonista da série, é um personagem muito cativante. Mas a trama deste primeiro foi tão chata, que nem penso em continuar com a série. Ainda estou devendo a leitura de “Morte Súbita”, que a J. K. lançou com seu nome mesmo, depois de ter terminado a saga de HP.
51. O Ano do Dilúvio — Margareth Atwood
Na seca por mais Atwood, li esse e fiquei mais impressionado com a preocupação ecológica que ela imprime nas suas distopias. Já insinuava algo assim em O Conto da Aia, mas aqui a decadência ecológica é o mote central. Desesperador.
52. Mindhunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano — John Douglas e Mark Olshaker
Depois de assistir à série da Netflix, que julgo ter sido a melhor série de 2017 pra mim, tive que ler o livro que a originou. Não me decepcionei, apesar de serem obras de natureza completamente diferente, a sede por teorias sobre esse tipo de psicopatia só aumentou.
53. O Amor dos Homens Avulsos — Victor Heringer
História trágica daquelas que você sabe que vai chorar com o final infeliz anunciado desde a primeira página. Excelente para abrir os olhos para a crueza da vida em carne viva.
54. O Silêncio dos Inocentes — Thomas Harris
Daí que tive que visitar o clássico mor sobre serial killers, né? Boa trama, personagens bem construídos. Tenso e nervoso.
55. Extraordinário — R. J. Palacio
Como em toda obra que toca no tema deficiência eu já entro com os dois pés atrás, comecei esse aqui pra ver qual era a do hype todo, com filme e tudo o mais. Confesso que não foi uma leitura ruim, nem problemática, no sentido de ser capacitista. Mas o final piegas denuncia claramente ser uma narrativa partida de um ponto de vista de uma pessoa sem deficiência. Queria ler a mesma história sendo de autoria de alguém com deficiência, pois duvido que a história terminaria como terminou: condescendente e paternalista.
56. Direitos Iguais, Rituais Iguais — Terry Pratchett
A fama do Pratchet é ser o Douglas Admas da Fantasia. Encantador. Senso de humor daqueles que me pegam mesmo. Primeiro volume da série Disk World que leio. Pretendo ler muitos outros mais dele.
57. Crônica de Uma Morte Anunciada — Gabriel Garcia Marquez
A prosa desse homem é absurda de boa. E essa trama, tão atual, mas tão ultrapassada, deixa qualquer um de queixo caído. Quando a obra sabe se misturar com a realidade, que a gente não sabe onde uma começa e a outra termina. Ótima leitura pra terminar 2017.
Se for pra estipular uma meta para 2018, pretendo ler menos títulos. Acho que preciso me dedicar mais a cada um, porque meu estado mental tem me deixado muito disperso. Não é conselho, não é cagação de regra. Acho que vai me servir melhor. Repara o que melhor te serve, e leia o que quiser, o quanto quiser, pois há de ser tudo da lei. Se quiser comentar comigo sobre algo dessa lista, tô no Facebook e também no Twitter. Sou facin, facin…